sexta-feira, 4 de junho de 2010

CAFAJESTE SIM, CANALHA, NUNCA!

Por Fabiano Chaves

Muito se fala da música brega. Há quem diga que é música pra corno, música pra quem está com ciúme, música de velho, de bêbado, música de casa de tolerância e por aí vai... Muitos louvam a música brega, dizem ser uma música mais sensível, romântica. Música pra bons ouvidos, enfim, há quem diga até que é música mais bem feita, tecnicamente, que outros ritmos. Gosto, nós já sabemos, é que nem bunda, cada um tem a sua... Aliás, cada um gosta de um tipo diferente de bunda, as maiores, mais redondinhas, as mais discretas. Tem gosto pra tudo. É indiscutível. Mas o que essa exuberante matéria quer na verdade é mostrar os dois lados do brega: O lado cafajeste, aquele lado já citado no último post, o lado do machismo transbordante, do dono da casa. E o lado corno, aquele lado quase sempre com saudade, querendo que ela volte, mesmo sabendo que é na hora do prazer, é outro que ela chama.
- O brega é multifacetário, ele tem momentos extremamente safados, em que o cantor insinua uma transa, um momento a dois e tal, as vezes no mesmo disco em que há uma faixa em que o personagem da história é vítima, foi traído e está a beira de um porre. Diz Antônio Marchesini, músico, fã da música de bar e amigo da garrafa.

Vamos conhecer o lado mais brando, o lado manso, o lado corno manso, na verdade. Pra mostrarmos que o brega é composto não só de cafajestagens e machismo, nada melhor que citar alguns trechos românticos de um dos maiores nomes do brega: Reginaldo Rossi. O brega as vezes consegue ser muito meloso. Imagine se sua namorada não ficaria molhada ao ouvir isso sendo sussurrado ao pé do ouvido, no frio das 4 da manhã de um sábado de agosto: “E tudo que a gente transava, eram 3, 4 cubas, eu era a raposa, você era as uvas, eu sempre querendo teu beijo roubar...” Ou até mesmo o orgulho de quem vestiu a peruca de touro, mas saiu com dignidade de um relacionamento: “Saí da tua vida, eu só representava um cheque no final do mês / Você não respeitava o homem que te amou demais, abusou de mim, e me passou pra trás”. Ou até mesmo o “amor de puta” vivido por Odair José “Olha a primeira vez que vim aqui, foi só pra me distrair... / Eu vou tirar você deste lugar, e vou levar você pra ficar comigo...” Lindo demais né?!




Mas não é só de momentos românticos, bonitos, fiéis e traídos que o brega vive. Há também os momentos que remetem aos instintos mais carnais do homem, o lado selvagem, o lado polígamo. O próprio Rei Rossi se declara um grande safado em “Eu não presto, mas te amo” : “ ...Que eu não sou capaz de amar ninguém de verdade, eu só penso na minha vaidade...” Até mesmo o gentleman Nelson Gonçalves mostrou sua cafajestagem nos versos da volta do boêmio: “Voltei, para rever os amigos que um dia, eu deixei a chorar de alegria / me acompanha o meu violão”.




Sendo tão sofrido, ou muitas vezes largado a boemia, que atire a primeira pedra quem nunca ouviu uma boa música brega, quem nunca mentiu em algumas palavras bonitas após uma pulada de cerca, ou quem nunca encheu a cara ao saber que “ela” foi embora.

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